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A vida no exterior e as despedidas definitivas: O dia que disse adeus à minha mãe.

Quando moramos no exterior as despedidas se tornam parte da nossa rotina. São frequentes e diferentes. Cada despedida é única. As vezes há muito choro, as vezes sorrisos, outras vezes insegurança. Mas essas despedidas são todas passageiras. A despedida que mais tememos mesmo, é aquela despedida que não tem volta.


Ao decidir falar sobre a minha vida aqui no blog, eu sabia que ia chegar o momento de falar sobre a minha despedida da minha mãe. De dar vida, através das palavras, a uma dor que está quietinha e bem guardadinha no meu peito. Falar da partida da minha mãe faz o meu coração bater mais forte e me deixa assim… mais saudosa. Não pela tristeza que as lembranças me causam, mas sim por saber o quanto é doloroso estar longe daqueles que mais amamos, no momento em que eles mais precisam de nós. É o mesmo que abrir um enorme baú de emoções. É isso que me vem na mente. A tão famosa culpa, que diga-se de passagem, muitos jogam em cima de nós sem sequer pestanejar.

Primeira vez da minha mãe em Genebra

Uma das maiores desvantagens de morar em outro país, para mim, é ver nossos pais envelhecerem longe da gente. É muito difícil. Como ficamos longos períodos sem os ver, quando o dia chega, o susto (as vezes) pode ser grande! Na verdade o envelhecimento dos nossos pais é todo um processo. Para mim foi muito difícil realizar que a partir de certo momento, eu não seria mais cuidada como tinha sido até então, eu iria cuidar. Por morarmos longe geograficamente, começamos naturalmente a imaginar em que contexto se darão as despedidas sem volta. Se estaremos prontos. Se estaremos presentes. Se verão nossos filhos crescerem.... Enfim, tantas questões que das vezes preferimos nem pensar, não é mesmo?


Tive a sorte gigantesca de ter uma mãe extremamente amorosa. Uma mãe daquelas de filme: ela estava sempre, sempre disposta a nos ouvir e nos acolher, mesmo que não concordasse conosco. Ela era aquela mãe que conhecia até mesmo o prato preferido dos meus amigos… Ela tinha seus defeitos também claro, afinal, quem não tem? Mas aos meus olhos de filha, ela era perfeita! Tudo aquilo que um filho pode querer em uma mãe, a Marisinha tinha!


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Maio de 2012. Nós estávamos planejando uma viagem a Nova York. Eu estava ansiosa com a viagem e muito empolgada. Liguei para a minha mãe da sala de embarque do aeroporto, e após a nossa conversa senti que ela não estava bem. Alguma coisa certamente tinha acontecido. Perguntei e ela me respondeu que estava apenas cansada (era muito cedo no Brasil), mas que estava muito feliz em ver a nossa felicidade e que nos desejava uma viagem inesquecível. Acreditei, desacreditando. Sabia que algo grave deveria estar acontecendo, mas não imaginava o quão grave poderia ser.


Nós duas! (E a Gabi na barriga)

Chegando em Nova York, liguei novamente para a minha mãe perguntei o que estava acontecendo e depois de muita insistência ela me respondeu: semana passada eu passei muito mal e fui para o hospital. Fiz vários exames e os médicos disseram que, com 90% de certeza, estou com câncer em um grau muito avançado. Não te falei nada para não estragar sua viagem. Sabia que você iria se preocupar e não queria que isso acontecesse (mãe sendo mãe, quer dizer, Marisinha sendo Marisinha). Após essa ligação eu desabei completamente. Chorei durante horas. Só queria estar ao lado dela naquele momento para lhe dar um abraço bem apertado, mas estava do « outro lado do mundo ». Abracei-a em meus pensamentos. No fundo do meu coração eu sabia que a batalha não seria fácil e que as possibilidades de vitória eram bem pequenas.


O câncer é uma doença que mexe com toda a família. Ver uma pessoa que amamos MUITO e SEM MEDIDAS, sofrer MUITO E SEM MEDIDAS, é dilacerante. Minha mãe amava a vida. Ela era uma pessoa feliz apesar de todos os pesares, e ouvi-la dizendo « como eu gostaria de ver meus netos crescendo », me causava uma dor que eu nem sei traduzir em palavras. Sempre dizíamos que ela iria « sair dessa », mas sabíamos que aquilo não era verdade.


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Foram dois anos de tratamentos. Quatro idas ao Brasil. Eu, marido e filhas. Ao todo passamos 5 meses juntas, coladinhas, durante os 2 anos da doença. Fizemos o máximo que podíamos para ficarmos o mais próximo possível. Enviava cartas, fotos, mimos… Nos falávamos TODOS os dias. Eu saía do trabalho e ligava pra ela. Eram aproximadamente 30 minutos diários de puro amor. Ahhhh, quanta saudade…. Dois anos após o início do tratamento e já seguindo um tratamento paliativo, nós sabíamos que o dia da despedida estava chegando. Meu marido e meu irmão me diziam para « eu ir me preparando », aí eu perguntava, « como a gente se prepara para se despedir da mãe? Não há preparo, há apenas a falta de opção. Quando a campainha toca do lado de lá, não há nada a fazer.


Minha mãe faleceu em junho de 2014 e em plena copa do mundo no Brasil. Nós já estávamos com as passagens compradas, iríamos passar 30 dias junto à família e em clima de copa. Uma semana antes da nossa viagem, recebi a tão temida ligação. Do outro lado da linha, meu irmão: « Cris, a mamãe descansou. Seja forte, estamos juntos nessa ». Chorei durante horas.