Expatriação: primeiros passos rumo à uma nova vida
Ouvimos por todos os lados que morar no exterior é uma aventura extraordinária e que pode abrir muitas portas. Mas como saber se isso também é a coisa certa para você? Minha experiência pessoal é de que morar e trabalhar no exterior pode um verdadeiro gatilho (para mim foi), uma libertação e uma escolha de vida. Mas eu não consegui enxergar tudo isso nos primeiros anos. Nos primeiros meses, passada a euforia inicial, a empolgação se transformou em desilusão.
“A diferença entre aqueles que vencem e aqueles que fracassam não está no que cada um possui, mas sim no que escolhem ver e fazer do que a vida lhes oferece” - Anthonny Robbins
Mudar de país para muita gente é a realização de um grande sonho, porém, há de se dizer, que atrás das novidades encontradas no exterior também há uma rotina, e rotina é rotina em qualquer lugar do mundo não é mesmo? Por isso costumo dizer às pessoas que estão planejando se mudar ou que acabaram de chegar em outro país, da importância em se conectar com as pessoas que já residem naquele lugar há muito tempo, a fim de identificar quais serão os maiores obstáculos a serem vencidos, uma vez que a romantização acabar.
Um dos primeiro passo a ser tomado é o planejamento com antecedência. Mudar de país exige planejamento, não dá pra fugir. Por isso, não tenha pressa, faça as coisas com prudência e cautela e eu garanto que você não irá se arrepender.

Antes da chegada
Muitas vezes na euforia da partida negligenciamos pontos muito importantes para a mudança, como por exemplo, nos informarmos sobre a realidade do país de destino para os imigrantes. Vou dar um exemplo. Moro na Suíça. Aqui há um programa de integração social e inserção profissional para os imigrantes. Nem todos os imigrantes conhecem, e no entanto é uma ajuda muito valiosa para todos nós, sobretudo no momento da chegada, quando nem sempre dominamos a língua e tampouco conhecemos as regras da sociedade. Faz muita diferença. Então procure saber como seu país de destino acolhe os imigrantes.
Leia também: Como construí minha rede de apoio no exterior - Parte I
É importante ter em mente que por mais que você esteja indo para um país muito próspero, quando chegamos, por vezes indocumentados e sem falar a língua local, aquela tão sonhada boa vida pode demorar pra chegar. As vezes até mesmo alguns anos. É preciso resiliência, dedicação e muita força de vontade. Antes de decidir deixar seu país de origem, responda perguntas como:
· É fácil encontrar alojamento? Quais são os requisitos? Qual a média do aluguel de um apartamento como o que eu necessito?
· Qual setor profissional é o mais promissor para os imigrantes? Estou pronto para isso?
· Qual a média de salário naquele país?
· Qual será a média de gastos com as despesas fixas mensais, como aluguel e telefone?
· Como é o sistema de saúde? Há hospitais públicos? Como fazer em uma emergência (sobretudo quando se trata de famílias com crianças)
· E o clima? Será que dou conta? (Mantenha em mente que a empolgação inicial irá passar, mas muito raramente o clima irá se transformar, então se você não gosta de frio, leve esse ponto em consideração).
As vezes pode até parecer assustador, mas eu garanto que não é não. Morar no exterior, mesmo que por pouco tempo, é uma experiência de vida incomparável e sobretudo inesquecível. É fundamentalmente diferente do que apenas visitar uma nova cidade por alguns dias ou semanas. Os desafios que enfrentamos durante o processo de adaptação deixam marcas que levaremos conosco para o resto de nossas vidas.
Todavia, pense também na distância da sua família e amigos, será que você aguenta? Eu sofri muito pela distância, muito mesmo. Leve também em consideração o fato de que provavelmente você deverá efetuar trabalhos fora da sua área. É normal. Esteja pronto quando o momento chegar. Pense que talvez seus vizinhos não serão tão amigáveis e gentis com você, como costumam ser no Brasil, e se tiver filhos, reflita sobre o fato de que eles crescerão longe dos avós, tios e primos. Você está pronto para encarar tudo isso(e muito mais)? Se sua resposta for sim...
Se a oportunidade surgir, agarre-a com todas as forças, sabe porquê?
· Porque as coisas materiais não serão mais importantes pra você do que memórias e experiências;
· Porque o processo de adaptação fará com que você aprenda mais sobre si mesmo;
· Porque você se surpreenderá com a quantidade de coisas que você realizará;
· Porque você vai aprender a pensar de maneira mais criativa;
· Porque você vai passar a apreciar ficar a sós consigo mesmo;
· Porque você vai aprender a se conformar com a ideia de que nem sempre as coisas saem como planejado, e está tudo bem. O que importa é o que aprendemos quando as coisas saem do nosso controle;
· Porque você vai aprender a pedir ajuda e a aceitá-la. E também verá que muitas pessoas ficam felizes em ajudá-lo;
· Porque você desenvolverá habilidades até então desconhecidas;
· Porque você se tornará um especialista na resolução de problemas, sejam eles quais forem;
· Porque quase sempre você terá uma história interessante para contar;
Leia também: Como tudo começou. Minha chegada em Genebra e dicas de adaptação
Cheguei, e agora? O elevador emocional dos primeiros meses
Passada toda a fase de planejamento e espera, você poderá enfim se concentrar em sua nova vida no exterior. Dia após dia, o estresse da instalação dá lugar à excitação e ao desejo de experimentar coisas novas. Diferenças e semelhanças entre culturas, descoberta dos costumes locais, o simples fato de passear pelas ruas de seu novo ambiente já é maravilhoso, e esse período de descoberta é um dos mais emocionantes. Mas aos poucos este momento deixará espaço as dúvidas e você poderá até mesmo se perguntar quais foram as razões que o levaram a deixar seu país. De repente as coisas parecerão tão diferentes para você. Emocionalmente falando, os primeiros meses no exterior são desafios reais, divididos entre o desejo de descobrir o novo país, bem como seus costumes e instalações, e a nostalgia pelo país de origem. Esses sentimentos são completamente normais e legítimos.
Vá com calma e prudência. Observe. Pergunte. Não tenha vergonha de parecer repetitivo, lembre-se sempre de que na dúvida é melhor perguntar; e acredite, as diferenças culturais podem surpreender mais de um.
Uma das primeiras providências que tomei quando cheguei aqui foi me informar sobre a tradução e equivalência dos meus diplomas. Acho importante e muito válido, pois um diploma em mãos pode abrir não apenas portas profissionais, mas também acadêmicas. Você poderá se informar em relação aos cursos e formações que poderá fazer a fim facilitar seu acesso ao mercado de trabalho local. A segunda providência não menos importante ao meu ver, é procurar por pessoas que já estejam inseridas no mercado de trabalho e que possam te ajudar a elaborar um currículo adequado com o seu novo país e a sua nova realidade, além de poderem contribuir com o seu sucesso através de dicas preciosas, que apenas aqueles que já estão fora há muito tempo poderão lhe passar. Ter um dossiê de candidatura adequado e saber onde e como se dirigir em busca de um trabalho faz muita diferença.

Meus conselhos?
· Aprenda a língua local o mais rápido possível. As vezes quando chegamos no exterior não temos condições de pagar cursos (eu não tinha). Meu conselho é você se dedicar a língua estrangeira 24h/dia. Como? Leia jornais e revistas mesmo sem entender nada. Assista televisão mesmo se você ainda não consegue acompanhar um filme (assista com legenda). Escute muita música, músicas são excelentes para o aprendizado de um novo idioma;
· Não tenha vergonha de “se jogar” na nova língua. Não tenha vergonha de se arriscar. Certamente você não será nem o primeiro nem o último estrangeiro a falar com sotaque ou meio embolado; No começo é assim mesmo, e você irá se surpreender quando notará que, com o passar do tempo melhorou muito;
· Nos primeiros meses tenha sempre um dicionário por perto. Além de ser um dos nossos melhores aliados, pode te salvar em um momento de “pânico”;
· Saia de casa, converse e faça amigos;
· Faça a sua matrícula consular em seu novo país, pode parecer desnecessário, mas é extremamente útil quando precisamos tratar alguns assuntos burocráticos estando longe. Não custa nada né?
· Se dedique aos seus projetos. Estude. Estabeleça metas;
· Cuide-se!
Nem sempre os dias serão fáceis, isso é um fato. No exterior os problemas me parecem inclusive mais complexos, devido ao fato de estarmos longe da família, amigos e consequentemente da nossa zona de conforto. O importante é você ter em mente que problemas acontecem com todo mundo, sem exceção. Não foque nas dificuldades. Foque nos seus objetivos, nos seus sucessos, e mantenha em mente que muitas vezes são os próprios obstáculos que nos permitem crescer e atingir nossas metas. Faz parte da jornada de todos nós.
“Os únicos indivíduos sem problemas descansam em cemitérios. Portanto, não é o que acontece conosco que distingue nossos sucessos de nossos fracassos; mas sim a maneira como percebemos e como reagimos ao que acontece” - Anthonny Robbins
Por fim eu diria tenha cautela, e não se esqueça, uma vida no exterior não é necessariamente sinônimo de uma vida feliz. A nossa felicidade está dentro de nós mesmos e nos sentimentos que carregamos em nosso coração! Acredite em você e nos seus sonhos. NEVER GIVE UP! :)
Bjs, Cris!
Referências:
· Robbins Anthonny (2012). O poder sem limites. Editora Pergaminho.
· https://www.efswiss.ch/fr/blog/language/50-raisons-de-partir-vivre-a-letranger/
· https://www.assimil.com/blog/premiers-pas-a-letranger-a-quoi-faut-il-sattendre/