Construindo sua rede de apoio no exterior. Dicas que irão facilitar seu cotidiano! 2ª parte
Quem mora na Europa sabe o quanto mão de obra aqui é cara. Muito raro ver pessoas da classe média com ajudantes que vão todos os dias, e que trabalham 8 horas por dia. Aqui em Genebra as pessoas contam muito com os serviços de diaristas, que são remuneradas por hora.
Não tenho nenhum tipo de ajudante em casa. Nem semanal, nem mensal, nem alguém para cuidar da roupa, nem para ajudar com as crianças. Ninguém mesmo. Mão de obra aqui é caríssimo. Se eu quisesse contratar alguém para me ajudar 5 x por semana dentro da lei (pessoas em situação regular e salário digno), o custo com todos os acréscimos, não seria menos de CHF3’300 (chutando baixo, hein?), em reais, isso corresponde a aproximadamente R$12.000,00, e esse valor não cabe no nosso orçamento. Poderia, sim, ter uma ajudante semanal, pagando +/- 100 reais a hora. No entanto, escolhemos investir em outras coisas que nos parecem mais importantes, afinal, nosso apartamento nem é tão grande assim, e, se a maioria das famílias daqui conseguem, porque nós não conseguiríamos?

E a casa, Cris? Como fica? Quem limpa? Quem cozinha? Quem lava e passa?
Como damos conta? Seguem minhas dicas. Por aqui funcionam, espero que os ajude tbm.
Meu marido e eu. 1 + 1 =2. Somos dois. Tudo aqui é dividido. Eu arrumo a sala e a cozinha. Ele limpa os banheiros e a casinha da Odessa. Ambos lavam as roupas. Eu passo a roupa (aquela que tem que ser passada, nada além disso - *risos*). Ambos cozinham. Ele tira o lixo. Ambos levam e buscam as filhas na escola. Ele leva nas atividades extraescolares. Mas, não há neura. Fazemos quando dá, e se não deu, tá tudo bem também, fica para a próxima vez. E, no trabalho, sou extremamente responsável e profissional, dentro do período que me propus ser, nada mais além disso. Me livrei das cobranças. A maternidade não pode e não deve ser pesada! Não dá para fazer tudo ao mesmo tempo não, e muito menos com excelência. Logo, hoje, com excelência, sou apenas mãe e esposa, e por escolha!
Responsabilizar a cria. Aqui em casa, desde os 4 anos, nos aniversários, minhas filhas ganham 1 presente + 1 responsabilidade. Eu li em algum lugar sobre alguém que fazia isso para responsabilizar os filhos e decidi fazer o mesmo. Essas responsabilidades também se tornaram facilitadores na nossa rotina, pois as atividades atribuídas às pequenas, embora não sejam tarefas complexas, devem ser realizadas e tomam tempo, como guardar a roupa dobrada no armário, colocar e tirar a mesa, arrumar o próprio quarto, passar o aspirador de pó, etc. Como digo em casa, “aqui todos trabalhamos pelo bem estar uns dos outros”. E além dessas responsabilidades serem relevantes na construção da minha rede de apoio, elas também possuem uma função pedagógica. Este hábito vai além da rede de apoio. Através dele, almejo transmitir às minhas filhas o quanto ter responsabilidades é importante no desenvolvimento delas, para que no futuro, entre outras coisas, sejam pessoas mais completas e independentes, pois a responsabilidade é um valor constante em nossas vidas.
Investir em aparelhos eletrodomésticos que realmente fazem a diferença. Sabe aquele aspirador de pó baratinho, mas que não aspira? Aquela lava-louça super em conta, mas que exige que você passe uma água nos pratos antes de coloca-los na máquina? Pois é, deixei de comprar as coisas pelo preço e comecei a fazer pesquisas para encontrar equipamentos que me fizessem ganhar tempo. Um bom aspirador, uma boa lava-louças e aquele mega ferro de passar roupa nos ajudam a ganhar horas preciosas com a família e amigos. Hoje sempre foco na qualidade.
O dia em que aceitei que Genebra era sim minha casa, e que de nada me adiantaria reclamar por uma situação que não iria mudar. RESILIÊNCIA. Era esse o segredo. Fiquei mais leve, me abri para uma cultura que, sim, é muito diferente da nossa, mas ser diferente não significa ser ruim, não é mesmo? Então hoje digo com propriedade que esse momento foi libertador para mim, pois, enfim eu via as vantagens em ser expatriada. Aprendi a encarar a minha nova realidade e vivê-la intensamente. Por muito tempo, só pensava em voltar para o Brasil. Achava que jamais seria feliz longe da minha família. Sempre fui muito apegada à família e esse apego me impediu de ver que, na realidade eu não estava longe, mas construindo uma nova família: a minha! Entendi que não é demagogia dizer “longe dos olhos, perto do coração”. Isso é real. Construí uma LINDA relação entre a minha família no Brasil e a minha família aqui em Genebra, apesar da distância. Sim, é possível, acreditem! Cartas, fotos, chamadas de vídeo, livros, filmes em português... tudo isso contribuiu e contribui muito. Minhas filhas e marido AMAM o Brasil... e AMAM MUITO MESMO!!!
Então gente, para mim, o que mudou tudo foi aceitar a minha condição de expatriada, aceitar que precisava de ajuda e ir atrás dessa ajuda. Foi aprender a apreciar as pequenas coisas da vida. Parar de reclamar o tempo todo e ser grata simplesmente por acordar cada manhã com saúde. Foi parar de fazer comparações e de viver sonhando com o amanhã. Não me cobrar tanto. Aceitar que sou imperfeita, e que está tudo bem. Foi me dedicar 100% ao momento presente. Foi olhar para o país que me acolheu como sendo minha nova casa e buscar também os benefícios que temos aqui. Descobrir uma nova cultura e apreciá-la! Foi cancelar a globo internacional e descobrir uma programação televisiva completamente diferente da nossa, mas que por vezes, é até mais enriquecedora. Foi me interessar pela língua e estudá-la.
Não dá para viver na Europa e querer fazer churrasco com pagode todo fim de semana. O barulho vai incomodar os vizinhos sim, sem falar no frio que faz a maior parte do ano e que também dificulta churrasco ao ar livre, né? Mas, podemos aprender a esquiar, ir para montanha nos fins de semana curtir a neve, apreciar um bom museu. Assim como também não dá para comer arroz com feijão, nem coxinha e pastel todo dia; mas há TANTA receita deliciosa por aqui, que, dá, sim pra gente se deliciar com outras coisas, e o arroz com feijão, bem como a coxinha e o pastel, se tornam pratos para ocasiões especiais *risos*.
Hoje eu já não troco um dia ensolarado no parque com minha família pela faxina, não troco o “boa noite mamãe” por horas de trabalho, e nem um bom filme com o meu marido pela cozinha arrumada. Afinal, com excelência, apenas o papel de mãe e esposa, lembram?
Bjs Cris!