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Apenas um desabafo...

O dia que coloquei meu pai em uma casa de repouso


Pensei muito antes de escrever este texto exatamente por saber que haverá muito mais pessoas para criticar do que pessoas tentando entender, mas decidi escrever mesmo assim para quem sabe ser reconforto àqueles que como eu, cedo ou tarde viverão este momento.


Há um mês meu pai entrou para uma casa de repouso. Talvez esta tenha sido uma das decisões mais difíceis que tive que tomar (junto a meu irmão), mas a realidade não nos deixou outra opção. Minha mãe faleceu em 2014 e nós sabíamos que meu pai sem a minha mãe não seria a mesma coisa. E realmente não foi. Aos poucos ele foi perdendo a memória e se distanciando da realidade. Levamos ao médico, fizemos exames, e não, não era Alzheimer. Era o choque causado pela perda da minha mãe, e também a vida cobrando a conta do AVC que ele teve em 2007.


É tão difícil ver nossos pais envelhecerem. É tão difícil realizarmos que a medida que os anos passam os papéis vão se invertendo e naturalmente vamos tomando as rédeas da vida deles. É tão difícil vê-los andar vagarosamente e ao mesmo tempo nos lembrarmos de toda a energia que um dia tiveram. Mas é assim. Este é o ciclo da vida.


Eu adoraria estar ao lado do meu pai neste momento e cuidar dele como ele sempre cuidou de mim e das minhas filhas. Só que a vida decidiu que não seria assim. Eu moro longe. Muito longe. Ajudo com tudo que posso, mas fisicamente não estou lá. Durante muito tempo me culpei por (mais) esta situação. E como se não bastasse minha própria culpa, fui também culpada pelos outros. Recebi algumas ligações de pessoas dizendo que eu deveria deixar a minha famíllia aqui em Genebra e ir para o Brasil cuidar do meu pai. Como se isso fosse o certo e a única opção para uma filha que ama verdadeiramente o pai : « Seu pai precisa de você », me diziam. Alguém sabe o peso de ouvir uma frase dessas ? Pois é, pesou pra mim também, mas graças a Deus passou. Cheguei a conclusão de que para dar opinião há muitos, mas para dar colo não há ninguém (ou quase ninguém). E da minha relação com o meu pai, e do nosso amor, quem sabe sou eu !


Eu e meu véinho que tanto amo! Julho 2017

Não POSSO e não QUERO abandonar meu marido e filhas aqui. Aliás, não seria o que o meu pai gostaria que eu fizesse também não. Ele sempre prezou a família. Além disso tenho um trabalho estável, que inclusive me permite melhorar um pouco a condição do meu pai. Será que eu deveria mesmo largar tudo aqui e correr para o Brasil ? Não creio que solucionaria os problemas, mas sim que causaria outros tantos.


O fim de semana que ele foi para a casa de repouso eu chorei muito. Algumas vezes é muito difícil aceitar que um oceano nos separa. Sinto falta do cheiro, da voz, das conversas… Fiquei me perguntando o que ele estaria pensando e sentindo naquele dia. Fiquei pensando como minha mãe encararia esta situação. Aí lembrei que eu e meu pai sempre fomos próximos. Que sempre o agradeci por tudo e por tanto. Que sempre digo a ele o quanto o amo. Que o abraço e beijo muito todas as vezes que nos encontramos, e que mesmo se nossas conversas hoje em dia são sem pé nem cabeça, por causa da memória que está indo embora, ainda temos longas e divertidas conversas.


Leia também: A distância e a culpa

Ou seja, não há razão nem espaço para culpa. E nós sabemos. Hoje ele está bem cuidado e rodeado de novos amigos. Está feliz. O amor não diminuiu, pelo contrário, parece até que aumentou! Foi uma escolha certeira pois ele precisa de cuidados que em casa não podíamos oferecer. E definitivamente não o abandonamos. Estamos e sempre estaremos ao lado dele.


Esse desabafo tem um tom de indignação pelas cobranças e julgamentos que recebemos nesses últimos cinco anos. Pela ausência de quase todos aqueles que durante anos, « enquanto estava tudo bem » viviam na minha casa, e agora nem telefonar telefonam. Por aqueles que tiveram a audácia de um dia pedir ajuda ao meu pai, e hoje sequer lhe oferecem um copo de água, MAS se permitem julgar, e criticar…. Esse desabafo também tem um tom de mágoa. Mágoa esta que estou tentando retirar do meu peito, não pelos outros, mas por mim mesma e por aqueles que me rodeiam e para os quais gosto de oferecer minha melhor versão.


Apenas um desabafo…. Pois a própria vida nos cobra a conta.


Bjs, Cris!

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